"Por que as Nações Falham" oferece uma análise aprofundada sobre as raízes do subdesenvolvimento e das desigualdades econômicas no mundo
A pobreza não é um fenômeno isolado, mas sim o resultado de fatores estruturais e históricos | Cido Coelho/SBT News/Imagem gerada por IA
Vanessa Reis
31/10/2024 às 13h45
*Integridade e Desenvolvimento é uma coluna do Centro de Estudos em Integridade e Desenvolvimento (CEID), do Instituto Não Aceito Corrupção (INAC). Este artigo reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do CEID e do INAC. Os artigos têm publicação semanal.
Nos últimos anos, o debate sobre a inclusão da pobreza nas políticas econômicas globais tem ganhado cada vez mais relevância, especialmente com a recente premiação dos vencedores do Prêmio Nobel de Economia, autores da obra "Por que as Nações Falham", que oferecem uma análise aprofundada sobre as raízes do subdesenvolvimento e das desigualdades econômicas no mundo.
Ao examinar as instituições políticas e econômicas que moldam o destino das nações, eles destacam que a pobreza não é um fenômeno isolado, mas sim o resultado de fatores estruturais e históricos que devem ser abordados de maneira integrada.
Neste texto, abordarei algumas das teorias desses renomados economistas, como um convite a repensar o caminho para a inclusão da pobreza nas estratégias de desenvolvimento econômico,
desafiando abordagens tradicionais e propondo soluções inovadoras para romper o ciclo de exclusão que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo.
Entre as principais hipóteses, destacam-se as explicações geográficas, culturais e de ignorância.
No entanto, Acemoglu e Robinson, em sua obra "Por que as Nações Falham", defendem que são as instituições econômicas e políticas, e não os fatores mencionados, que explicam o sucesso ou o fracasso das nações. A seguir, analisamos essas principais hipóteses.
Hipótese geográfica
Uma das primeiras teorias a tentar explicar a desigualdade entre as nações é a hipótese geográfica. Ela argumenta que a localização geográfica é determinante para o desenvolvimento de um país.
De acordo com essa visão, países situados nos trópicos, como os da África e da América Central, possuem desvantagens naturais, como a prevalência de doenças tropicais e solos inadequados para a agricultura intensiva, o que limita seu crescimento econômico.
Apesar dessa explicação parecer plausível, os autores refutam a ideia de que a geografia seja o principal fator de desenvolvimento.
Eles argumentam que muitos países com condições geográficas adversas conseguiram prosperar devido à implementação de boas instituições econômicas e políticas.
Hipótese cultural
Outra explicação amplamente difundida é a hipótese cultural, que atribui o sucesso ou o fracasso das nações às suas tradições, valores e crenças.
O filósofo Max Weber, por exemplo, acreditava que a ética protestante foi um dos motores da Revolução Industrial na Europa.
No entanto, os autores ressaltam que essa teoria falha em explicar situações como a da França, um país predominantemente católico, que conseguiu adotar modelos econômicos similares aos de nações protestantes com sucesso.
Além disso, mencionam que países islâmicos ricos, como a Arábia Saudita, não geram diversificação econômica, apesar de sua riqueza petrolífera.
Hipótese da ignorância
A terceira grande teoria é a hipótese da ignorância, que defende que os governantes dos países pobres simplesmente não sabem como transformar suas economias em prósperas.
Segundo essa visão, a falta de conhecimento sobre economia e políticas públicas adequadas seria a principal barreira ao desenvolvimento.
Entretanto, Acemoglu e Robinson contestam essa hipótese, argumentando que muitos líderes sabem o que deveria ser feito, mas optam por políticas que preservam seus próprios interesses e privilégios, mesmo à custa da prosperidade da nação.
Instituições econômicas: inclusivas e extrativas
A teoria central defendida pelos autores se concentra nas instituições econômicas e políticas.
Eles distinguem entre instituições inclusivas e extrativas. Instituições inclusivas incentivam a participação da população na economia, promovendo a inovação, o empreendedorismo e a educação.
Protegem a propriedade privada e oferecem oportunidades iguais para a maioria da população.
Por outro lado, instituições extrativas concentram poder e riqueza nas mãos de uma elite, limitando as oportunidades de progresso para a maioria.
Exemplos notáveis dessa dicotomia podem ser vistos na divisão da Coreia do Norte e Coreia do Sul após a Segunda Guerra Mundial.
Embora ambas compartilhem a mesma cultura e geografia, o sucesso econômico da Coreia do Sul é atribuído a suas instituições inclusivas, enquanto a pobreza da Coreia do Norte decorre de suas instituições extrativas.
Instituições políticas: inclusivas e extrativas
Da mesma forma, as instituições políticas podem ser inclusivas ou extrativas. Instituições políticas inclusivas promovem a participação pluralista e distribuem o poder de forma mais equitativa.
Por outro lado, instituições extrativas concentram o poder em uma pequena elite, que utiliza esse poder para enriquecer e manter seu domínio sobre a sociedade.
A relação entre instituições políticas e econômicas é crucial, pois instituições políticas inclusivas tendem a gerar instituições econômicas inclusivas, e vice-versa.
Por exemplo, o crescimento econômico é impulsionado por processos de "destruição criativa", em que novas tecnologias e empresas substituem as antigas, mas esse processo só ocorre em sociedades com instituições inclusivas.
Por que as nações falham hoje?
De acordo com os autores, as nações falham quando possuem instituições extrativas que inibem a inovação e a criação de incentivos econômicos.
Países com essas instituições tendem a experimentar altos níveis de corrupção, guerra civil, expropriações indevidas de capital e falta de investimentos em serviços públicos essenciais, como educação e saúde.
Conclusão
"Por que as Nações Falham" oferece uma análise profunda das causas da prosperidade e do fracasso das nações.
Em vez de culpar a geografia, a cultura ou a ignorância, Acemoglu e Robinson defendem que são as instituições econômicas e políticas inclusivas que proporcionam o desenvolvimento sustentável e equitativo.
Assim, para que as nações alcancem a prosperidade, é essencial que adotem instituições que permitam a participação ativa de todos os seus cidadãos na economia e na política, garantindo oportunidades justas e incentivos adequados ao crescimento.
*Integridade e Desenvolvimento é uma coluna do Centro de Estudos em Integridade e Desenvolvimento (CEID), do Instituto Não Aceito Corrupção (INAC). Este artigo reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do CEID e do INAC. Os artigos têm publicação semanal.
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