As discussões e as notícias sobre corrupção tomam conta da imprensa diariamente e, em geral, demonstram como um grande volume de recursos saem das atividades fundamentais do Estado, como saúde, educação, segurança pública, entre tantas outras, para alimentar projetos pessoais, campanhas eleitorais, bolsos e cuecas de políticos e burocratas.
Mas, além do impacto no presente, precisamos levantar outra questão fundamental: quanto da corrupção endêmica que vivemos resulta no desmatamento, na irresponsabilidade ambiental, na mudança climática, que se apresenta agora e que tende a aumentar no futuro?
Quando observamos a ação dos agentes das mais diversas entidades do Estado que regulam a proteção ambiental, da Amazônia aos mangues dos nossos litorais, podemos notar que há inúmeras estruturas em que a corrupção está presente. E aí chegamos a um ponto importante: além de sermos referência e termos o papel vergonhoso de líderes da corrupção nos rankings internacionais, também somos responsáveis por grande parte das atitudes que resultam no aumento da quantidade de gases de efeito estufa emitidos e na extinção de espécies vegetais e animais.
Podemos pensar em três problemas que ocasionam isso. Primeiramente, temos uma questão legal complexa, que permite que o país também seja o paraíso de produtores e vendedores de agrotóxicos e outros venenos para aumentar o volume da produção agrícola e pecuária.
Em segundo lugar, o ambiente político que vivemos faz com que alguns vejam a questão ambiental como algo secundário. Ou pior: como uma inimiga do desenvolvimento. Nos mais altos cargos da República, há pessoas que pensam que “o Brasil pode desmatar porque a Europa também desmatou”, que “devemos passar o trator”, que a produção agrícola e a geração de riquezas de curto prazo, como a exploração mineral, não precisam ser controladas porque trazem resultados econômicos e geram empregos.
Mas, além de tudo isso, há a corrupção que ocorre em diversos graus, do “cafezinho” para que o pequeno proprietário possa usar para o plantio o que deveria ser mata ciliar até o desmatamento descontrolado da Amazônia para produção de gado e de soja, com pagamentos milionários para agentes de fiscalização, legisladores e gestores públicos.
Em cada canto, está a corrupção que ameaça o clima. Na destinação sem o devido tratamento dos efluentes industriais que “não é notada” pelos fiscais, na não-observância dos automóveis que poluem mais do que deveriam, no descumprimento das metas de esgotamento sanitário pelas empresas concessionárias desses serviços nas pequenas, médias e grandes cidades.
Então, como pensar na saída para isso? Como evitar que o nosso futuro também seja destruído pela corrupção, que já leva tantos recursos do nosso presente?
Não há outra possibilidade de resolução que não seja uma mudança cultural. Não adianta pensar que apenas o processo de fiscalização pode dar conta de fazer com que esse não seja um problema para o país. Precisamos entender que termos o ambiente protegido e nos transformarmos em líderes da defesa do planeta contra a mudança climática pode ser um diferencial competitivo para as nossas empresas e para a nossa marca no mundo.
Então, além da solução necessária da informação precisa e da fiscalização no dia a dia, em todos os ambientes em que isso é possível, precisamos de uma conscientização mais ampla e de educação, mas não somente o conteúdo sobre meio-ambiente nas escolas de Ensino Fundamental e Médio.
É essencial a formação de jovens que possam colocar a preocupação com a mudança climática à frente das estratégias políticas. Além disso, é importante a formação de uma geração de líderes também para as empresas.
A boa notícia é que existem instituições que entenderam que essa mudança se faz além das ações político-governamentais. Movimentos liderados pelas Nações Unidas, pelo Conselho da União Europeia e por algumas empresas estão colocando isso em pauta. E também algumas ONGs, como o Youth Climate Leaders, que promove a formação de jovens lideranças para o clima, estimulando-os a compreender que as carreiras ligadas à preocupação climática não estarão somente no poder público e nos institutos, mas principalmente na gestão das marcas, no desenvolvimento econômico e no consumo.
Afinal, é importante sempre lembrar que, se não criarmos essa geração de líderes agora, não teremos tempo, porque, como sabemos, não há plano B.
*Kleber Carrilho, doutor em Comunicação Social, cientista político pela USP, professor convidado dos cursos de Gestão de Comunicação e Marketing e de Comunicação Política e Estratégias Eleitorais da ECA/USP.
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